Crônicas

Rotina há 8 – os meses que passam, mas não se vão

.

( )… e no silêncio da inexistência, também nutrimos sentimentos vivos:

— a presença que não está mais, mas persiste;

— lembranças em fotografias,

— objetos humanizados: as roupas – que podemos vestir, a qualquer hora, em busca de abraços —, o perfume, alegoria perfeita, as coleções pausadas e e empoeiradas;

— a poeira, que coça, nos coça, permanece;

— o barulho das chaves;

— o som dos passos pisados pela sola dos chinelos de dedo;

— vozes;

— o amor, tal tatuagem indelével na alma dos que ficam;

— o amor próprio, que de nada parece valer;

— o vazio, sensação inquieta de imobilidade, desagradável, além da conta;

— as dores emocionais que afetam o corpo;

— a baixa imunológica;

— as flores que perdem suas cores;

— todas as plantas que amarelam suas folhas;

— as contas que não cessam, em nome dos que já não existem;

— a cama, o sofá, a netflix;

— o celular, de lado – é inútil;

— o relógio, controverso em seus negócios com o tempo;

as cartas, na caixa de correios
ao lado das cinzas.

no silêncio da inexistência, a vida é um breve e eterno hiato branco, no qual vestimos nossos corpos de amálgamas incertos que somam todas as cores, escravizando em nós os dias, que não anoitecem.


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Bia Mies

BIA MIES é carioca da Serra Fluminense, autointitula-se "do mundo" e reflete em sua escrita um olhar sensível sobre a vida do seu "entremeio": cada crônica torna-se uma interação entre o trivial e a reflexão poética, uma tapeçaria de influências e insights. Tece pontes entre arquitetura, urbanismo, artes visuais e cênicas, moda, leituras, cafés, viagens, família, amores, Zeca (seu fiel companheiro de quatro patas), amigos, Itália e "experiências dos usuários", área na qual atualmente se especializa. Cada percepção transforma-se em texto, numa busca exploratória de pensamentos e emoções, através de uma visão pessoal do cotidiano e do extraordinário. Celebra a beleza da imperfeição e convida o leitor a uma jornada introspectiva, onde cada palavra é cuidadosamente escolhida para ressoar e provocar. Como o sopro das vivências que se entrelaçam pelo seu caminho, Bia Mies homenageia quase duas décadas de exploração literária no Crônicas Cariocas.

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